No trabalho — como na vida particular — as pessoas fingem o tempo todo. Fingem que sabem, fingem que entendem, porque não querem parecer estúpidas aos olhos dos outros (estúpido é quem não sabe, não como elas que sabem tudo). Eu que não sou bom fingindo estava sempre constatando minha incompetência, minha ignorância, comparada aos outros. Mas constatar que os outros fingem e que a vida é um...
Eficácia simbólica
O real para além do racional Conceitos são portais para outros mundos, e uma vez transposto o umbral, não há volta. Um dia ainda quero falar sobre isso usando Foucault, mas hoje eu vou usar Claude Lévi-Strauss como exemplo. E o conceito em questão será o de eficácia simbólica, que dá nome a um texto do livro Antropologia estrutural. Não quero falar do texto em si, mas sobre o significado...
Educação como prática da liberdade
Desenho do @linhadotrem Se eu fosse o ditador do mundo inteiro, ou no mínimo ditador do Brasil, todo mundo seria obrigado a ler Paulo Freire, pelo menos “Educação como prática da liberdade”. Que ser humano lindo não foi Paulo Freire, que amor pelo humano! Não digo o amor, palavra gasta na boca de pessoas que mal olham para os outros, que vivem centradas em si, mas o amor das pessoas...
Aforismos sobre amizade e máscaras
Podia ter escolhida uma máscara melhor, não? É que as máscaras tem muitos propósitos, como encenar ferocidade e instilar medo. (Uma máscara Oni?) Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário. Clarice Lispector, “Persona” em A descoberta do mundo A amizade é (o ambiente && a atmosfera) em que nos sentimos à vontade para ser quem somos: agimos...
Pós-nacionalismo
Quando estamos longe dos conflitos étnicos ou nacionais é fácil falar em pós-nacionalismo, porque não há nada que faça nosso sangue ferver, e falamos situados na paz. Mas eu quero falar de ideias — não de soluções, não de deveres e princípios, nem de nada concreto —, eu quero falar de uma ideia não como um instrumento, mas como algo abstrato e muito vago. Ainda que as ideias assim abstratas não...
Suficiência e sobriedade
Eu escrevo na condição de uma pessoa completamente vendida ao capitalismo, como alguém doentiamente vaidoso, que aprecia sem reservas todas as experiências e serviços, os sabores e gostos, as texturas, os mimos, todas as delícias e os confortos do capitalismo: isso aqui é um insustentável! Não importa como nós vamos resolver o “problema” de entregar às futuras gerações um mundo...
Estar à vontade
Semana passada eu saí com o pessoal do meu novo trabalho, a empresa montou o que se conhece como um Team building. Na atividade espontânea do final de um dos dias, tomamos muitas cervejas num bar e fomos até um karaokê continuar enchendo a cara. Depois de muitas doses de licor, gin tonic e toda a sorte de bebida o ambiente e as pessoas eram outras. É uma platitude surpreendente constatar o quanto...
Sobre o relativismo
Recolocar a lógica no tempo Para fins explicativos, e partindo de um ponto de partida quase arbitrário, poderíamos dizer que o relativismo é uma consequência do triunfo da psicologia sobre as perspectivas não-psicologistas em lógica. Os modelos antipsicologistas consideravam que as regras mais gerais da linguagem (a sua forma lógica) deveriam ser puras, porque a determinação dos elementos...
Cosmopolita tendencioso: sobre patriotismo e nacionalismo
Cosmopolítica relativista (e tendenciosa) Nasci em São Paulo, me criei na Bahia (a Bahia me deu régua e compasso), mas não sou nacionalista nem patriota. Se eu me apresentasse assim a todas as pessoas, dizendo que não sou nacionalista nem patriota, quanta confusão não causaria. Não apenas porque as pessoas não gostam de discutir nada — elas gostam de sentenciar e esperam ansiosas uma validação...
O lado feminino de Don Draper
A situação era a seguinte: o terceiro filho de Betts e Don Draper havia nascido há poucos dias e a filha mais velha deles, Sally, não reagiu bem à presença do irmão, Eugene. Não muito tempo antes do nascimento, o avô de Sally morreu enquanto passava uma temporada na casa de Betts e Don. O nome do avô? Eugene! Embora Don seja um exemplo paradigmático do masculino e a série esteja centrada nos...