Quer dizer, a liberdade de expressão de opinião é crucial e essencial na definição do que é democracia. Quando esta expressão de opinião pode de alguma maneira trabalhar contra a democracia, cria um problema. É o mesmo problema que se coloca em relação a partidos revolucionários. Democraticamente, é necessário que se permita a organização em partidos as diversas opiniões, correntes. Agora, em que medida este direito deve ser ou pode ser assegurado a partidos cujo objetivo é fazer com que desapareçam as instituições que permitam que ele exista – isso é uma complicação numa teoria democrática. Então, esse é um problema contemporâneo da imprensa, não é só no Brasil: como conciliar os dois papéis que a imprensa tem. Primeiro, como instituição da sociedade privada de exprimir o que se passa no mundo e a opinião da população. Por outro lado, na medida em que se comporta como ator político, ter instâncias que cobrem responsabilidade política dessa instituição.
Vale a pena ler toda a entrevista.
A idéia de que a “expressão da opinião pode de alguma maneira trabalhar contra a democracia” exige apenas que se conserve sua possibilidade. Ou seja, quem incansavelmente combate a idéia de que a imprensa atua em desabono da democracia está, acima de tudo, embargando a possibilidade de que a expressão da opinião possa servir a causas anti-democráticas. Mais uma vez: toda expressão de opinião é democrática. Assim penso ter exposto de modo mais contundente os embaraços envolvidos nesse ponto de vista.
É claro que a entrevista só interessa aos que crêem no “mito” da imprensa degenerativa. Não que a imprensa deva ser imparcial, não acredito que a imparcialidade pode ser completamente neutralizada nas coisas humanas, mas que ela deve, por certo, guardar limites de atuação. O tema das discussões sobre liberdade de imprensa, na minha opinião, não versa sobre imparcialidade, mas sobre os limites da imparcialidade.