Terrorismo e história
É revoltante testemunhar o genocídio do povo palestino transmitido ao vivo, online a cada minuto. Mas o que fazer? Como evitar o terrorismo? Porque o terrorismo é profundamente indesejável, mas absolutamente compreensível. Às vezes tenho vontade de amarrar uma bomba no corpo e ir para a fronteira de Israel com a Palestina, apenas com a missão de matar o maior número possível de israelenses. Sem nenhum grande plano, nenhuma grande meta, apenas o humilde objetivo de matar o maior número possível de israelenses. Nos dias em que acordo mais palestino eu não posso ser a pessoa que diz, “Não, eu não faria isso se tivesse no seu lugar!” Eu não tenho dúvida de que eu faria, eu faria com vontade. Eu não posso recriminar o terrorismo sem ser hipócrita, eu prefiro aceitar que eu também sou terrorista, que eu também sou daqueles que apostam na vingança, na violência, que não acreditam na justiça, mas no olho por olho, dente por dente. Como acreditar na justiça na Palestina, sem água e sem luz há quantas semanas, vivendo entre escombros, sobrevivendo na sombra da orgulhosa civilização ocidental, seu Direito e suas instituições? É fácil acreditar na justiça em Madrid. E eu pergunto de novo, como evitar o terrorismo?

Às vezes eu salvo tweets, ou salvo posts do Instagram, vídeos, como quem tivesse documentando algo, contribuindo para a História (gravando para nunca esquecer esse horror). Como se tudo isso fosse desaparecer, e eu precisasse contribuir com o acervo, salvando o que fosse possível. Crianças mortas pelo chão, estilhaçadas, presas nos escombros de prédios bombardeados. ((Também vejo crianças felizes, brincando entre escombros, como uma dignidade e uma alegria desafiadora e potente, mas nessas “naturalmente” presto menos atenção.)) Mas a quem mais lhe importa a História, senão aos historiadores? Ninguém quer ficar bem na fita, as pessoas e os povos querem fazer o que desejam, o que planejam, não importa as consequências. O cuidado das relações-públicas não é um cuidado com a história, mas com a publicidade e com seu efeito na política. Nunca tinha pensando no inusitado dessa relação, história e publicidade. Em qualquer caso, é preciso uma nova maneira de olhar a história.
“Frágil como uma bomba” é uma música de Yerai Cortés, baseada (suponho!) na frase recitada por sua mãe no documentário dirigido pelo músico espanhol Tangana, La guitarra flamenca de Yerai Cortés.