Camus e o Homem revoltado

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As estratégias socialistas não haviam alcançado o status de crimes injustificáveis quando Camus levantou a voz. Seu livro O homem revoltado custou a amizade com Sartre — e talvez muito mais. Longe de querer mobilizar explicações rasteiras, acho, porém, difícil compreender o lugar de Camus — tão pouco iluminado para a sua magnitude — sem considerar a sombra lançada sobre ele por uma geração inteira de comunistas ressentidos. Mas Camus era assim, um visionário, seus ensaios articulavam como destreza sem igual filosofia e literatura. Em seu tempo talvez só o próprio Sartre seja digno de ser ombreado a ele nesse aspecto.

Na introdução do livro as palavras de Camus ainda são atuais, prestam-se a explicar a apropriação nefasta do pensamento em nome do absurdo. “Os crimes cometidos sobre o estandarte da liberdade” — o que me faz lembrar Marcuse: “Hesito em empregar a palavra — liberdade — porque é precisamente em nome da liberdade que os crimes contra a humanidade são perpetrados”. Na última década, quem sabe nos últimos cinquenta anos, quantos crimes se ajustam a esse padrão que Camus define tão bem:

Há crimes de paixão e crimes de lógica. O código penal distingue um do outro, muito comodamente, pela premeditação. Estamos na época da premeditação e do crime perfeito. Nossos criminosos não são mais aquelas crianças desarmadas que invocavam a desculpa do amor. São, ao contrário, adultos, e seu álibi é irrefutável: a filosofia pode servir para tudo, até mesmo para transformar assassinos em juízes.

(…) No momento em que o crime se enfeita com os despojos da inocência, por uma curiosa inversão peculiar ao nosso tempo, a própria inocência é chamada a justificar-se.

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