O conhecimento arruína o amor: à medida que penetramos nos nossos próprios segredos, detestamos os nossos semelhantes, precisamente porque eles são parecidos conosco. Quando deixamos de ter ilusões sobre nós próprios, não as conservamos também acerca de outrem.
De Heloísa e Abelardo, recorto um fragmento que será comentado por meu amigo Wagner aqui no blog, tão logo ele supere os entraves que sua própria natureza procrastinadora lhe impõe. Um fragmento não menos contundente.
A questão levantada por Teofrasto era: o sábio deve se casar? E a resposta é: não. Pois é raro que todas as condições necessárias para um bom casamento estejam reunidas e, mesmo quando elas estão, é preferível abster-se. Por quê? Porque uma mulher impede que se dedique à filosofia e porque é impossível servir ao mesmo tempo a dois senhores: sua mulher e seus livros. As mulheres sempre querem alguma coisa; enquanto não a conseguem, passam todas as noites em intermináveis reclamações. Por que você olhou para a vizinha? O que você estava dizendo à empregadinha? Nutrir uma mulher pobre é um fardo, mas que tormento manter uma mulher rica! Se ela é bela, os homens correm atrás dela; se é feia, é ela que corre atrás dos homens. Tem-se a tarefa de conservar aquilo que o mundo todo deseja ou o aborrecimento de manter uma coisa que ninguém quer. Em resumo, o que Teofrasto aconselha ao filósofo em vez de tomar uma mulher, é ter um bom criado.
Para ler, refletir e discutir. Convenhamos, é uma passagem espirituosa. Lembra algumas das instruções e constatações de Valmont.
PS. Esse não é um post sistemático! — talvez vocês tenham notado.