Filosofia e Sociologia no ensino médio

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Semana passada um amigo ligou para comentar a polêmica sobre a obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia no ensino médio. No Terra Magazine dois ex-presidentes da ANPOF (Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia) pronunciaram-se a respeito, professor João Carlos Salles, o último presidente, e o professor Arthur Giannotti, o primeiro. Manifestaram opiniões diversas, embora seja comum reconhecer as dificuldades apresentadas pelo contexto atual.

As objeções são legítimas, no entanto, parecem sugerir condições que no Brasil não se realizariam senão pelo desafio lançado pela obrigatoriedade. Outra contestações parecem ergue-se de fora e encerram alguma ignorância sobre a filosofia, sobretudo aquela que se refere a filosofia como algo absolutamente abstrato. É um argumento que nem mesmo se configura. Em outro domínio eu o classificaria como um típico FUD. Arranhaponte declara em 5 linhas, assim, como quem constata um dia ensolarado, que “essas aulas de filosofia e sociologia vão virar puro exercício de doutrinação esquerdista”. Claro, isso um fato! — como se ele pudesse distinguir um fato de um elefante amarelo! (Não, não acredito que esse fato seja um uso retórico do termo). É óbvio que esse tema, “chato, controverso, ranheta” (eufemismos para insustentável) não precisa ser justificado, porque é dispensável embora tenha sido trazido para compor o argumento. É como aqueles famoso caso da criança que após ter seu desejo negado, declara: “Eu nem queria mesmo!”. Eu preciso realmente escrever um post sobre retórica (servirá como um tipo de algoritmo), adoro esses exemplos e a internet está referta deles. O sujeito elabora uma idéia decisiva para a formulação da opinião do seu leitor, dá-lhe (equivocamente) o estatuto de fato e depois se nega a justificá-lo, como se, a essa altura, o leitor incauto já não tivesse embarcado nesse jogo de esconde-esconde e pudesse simplesmente abandonar a idéia mencionada. É um tipo de argumentação que só tem lugar nesse tipo de espaço que confunde experimentação — e alguma espécie de liberdade ensaística ou coisa do gênero — com irresponsabilidade e sobretudo com inconsistência.

A idéia de que o ensino dessas matérias desviará “
esforços, energia e foco” que deveriam ser dispensados à melhoria do ensino das “disciplinas tradicionais” conta com o humilde pressuposto de que as duas coisas não podem se articular. Ou bem se ensina filosofia e sociologia, ou bem se prioriza as melhorias fundamentais do sistema educacional. É uma belíssima caricatura de argumento!

Com efeito os desafios são gigantescos, corremos o risco de ver a filosofia devassada por profissionais despreparados, ou mesmo de nem ter quem exerça a função de ensiná-la. Adotar tais disciplinas é uma questão muito particular, responde a circunstâncias específicas e visa produzir resultados muito peculiares. Os paises ricos tem seus próprios problemas e suas circunstâncias, na Alemanha, por exemplo, o sistema educacional é bastante rígido (e complexo), filtra o conteúdo das disciplinas as quais a criança está submetida desde cedo (embora isso esteja mudando) de sorte que sua carreira já está quase determinada com bastante antecedência. Atropelar as diferenças é um modo de simplificação que não se presta a resolver nossas dificuldades, serve apenas para confundir e para produzir hesitação baseada numa autoridade que é encenada.

Por fim, é um notícia excelente — que deve nos estimular, antes de mais nada. Leiam também, sobre esse episódio, o excelente post do Idelber.

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