O declínio da oposição

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Ventilando o translado de César Borges do DEM para o PR, resolvi escrever sobre a temerária decadência da oposição. Contudo, na noite seguinte, Nassif antecipou minha tarefa. Escreveu A armadilha do PSDB onde, entre outras coisas, comenta o tema que pretendia tratar — mirando, particularmente, o PSDB. Cito algumas passagens interessantes:

Nos últimos dois anos, especialmente após a derrota para Lula, nas últimas eleições, o partido perdeu o rumo. Internamente, não conseguiu se decidir entre os representantes do mercadismo – Malan, Arthur Virgílio, Tasso – e os chamados desenvolvimentistas – Serra, Bresser, Nakano. O fantasma de FHC continuou pairando sobre ele, como um ectoplasma insepulto.

(…) sem visão estratégica, o PSDB perdeu o discurso e está embarcando em uma armadilha mortal: o macartismo mais canhestro que tomou conta da chamada grande mídia. É inacreditável como lideranças com passado e história, acabaram aceitando esse jogo simplificador e errado.

(…) Hoje em dia o partido se aliou à pior ala do PM (Partido da Mídia). Só que, ao endossar acriticamente esse discurso ultra-direitista e intolerante, o partido altera radicalmente sua essência. Perde a condição de criar uma utopia defensável, uma alternativa legítima ao governo Lula, deixa de agregar novos quadros.

A cada dia que passa, mais o PSDB parece ter a cara da “Veja”. É de causar pesadelos a quem julgava que, depois da eleição de Lula, finalmente o jogo político iria amadurecer – com o processo de amadurecimento do PT, não mais oposição.

Eu enxergo a ascensão do PT ao poder como uma vitória estratégica, não ideológica ou partidária, pois importa na composição de um cenário efetivamente pluralista, — ainda que as diferenças tenham se mostrado sútis — condição indispensável ao jogo democrático. Comungo, por isso, da preocupação com os rumos e projetos do PSDB. Acreditava, como acreditam os sonhadores, que eu poderia até votar em Aécio em 2010, depois que uma assepsia nas alianças partidárias expurgasse a nefanda ingerência peefelistas sobre o PSDB, e que teríamos pela primeira vez, abstraídas as hostilidades inerentes ao processo político, uma eleição razoavelmente pautada em propostas e projetos exequíveis — claro, o meu voto seria, como sempre o é, estratégico, propõe-se antes a distribuir forças segundo uma determinada leitura política.

Talvez seja uma quimera que eu insisto em alentar, mas o caso é que eu continuo, por alguma espécie de teimosia, a pensar em política visando, antes de mais nada, as condições para desenvolvimento político e institucional. Não podemos avançar enquanto não estivermos conscientes das deficiências estruturais no maquinário que anima a política num Estado democrático. Fingir que realizamos com eficiência a representatividade política que se realiza nos Estados desenvolvidos é trivializar a importância desse fator para o aperfeiçoamento das nossas instituições, da política em geral. E não há nada mais digno de crítica nisso que se costuma chamar de grande mídia do que a condescendência, talvez intencional, diante dessa carência.

Se estiverem interessados, leiam também:
Luis Nassif Blog – Jovem militante tucano

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