Inteligência e caráter (sic)

I
Decerto não lhe falta inteligência, mas talvez o traço distintivo do professor João Carlos Salles seja o caráter. Numa das últimas edições da ANPOF, contam alguns amigos que são orientados por ele, a professora Marilena Chauí apelidou-o de diplomata, pela habilidade com que coordenava interesses variados, contando sempre com espirituosidade e caráter. Se fosse exigido de alguém que trata de predicados, que ele os tivesse em si, não poderíamos imaginar alguém mais adequado para examinar inteligência e caráter.

Por essas razões sugiro que vocês leiam seu último texto, publicado no Terra Magazine, intitulado: Inteligência e caráter. Questões nevrálgicas são abordadas de modo sumário — embora nem por isso menos contundente. Na internet, em particular, na blogosfera, lugar onde a inteligência é quase sinônimo de acidez corrosiva, destruidora, algumas passagens esclarecem o equívoco subjacente em tais condutas, ao tempo que é mobilizada uma noção de inteligência cujo valor parece estar subordinada ao caráter. Enfim, confiram meus recortes e leiam o texto:

(…) se olharmos de forma mais ampla, veremos que temos pessoas inteligentes espalhadas por todos os lados, de sorte que, em alguns meios (especialmente, os artísticos e os científicos), ela é antes uma obrigação e menos uma nota louvável ou distintiva.

(…) Em vez de arma de defesa, a inteligência se torna arma de ataque e finge ser talento. O “ser inteligente” se torna então sinônimo de cinismo, um mero olhar cáustico que a tudo destrói. Não por acaso, um dos paradigmas ocidentais da inteligência coincide com a destruição completa, com o negativo mefistofélico, um ser que tudo nega e assim prefere mudar o mundo, mas pela supressão de qualquer ponto de apoio. A inteligência, então, porque transformada em valor, tem o sabor amargo de um nomadismo onde tudo é deserto. Não guarda nenhuma história, não pretende nenhum futuro, não preza nenhum lugar. Não por acaso, um dos paradigmas ocidentais da inteligência coincide com a destruição completa, com o negativo mefistofélico, um ser que tudo nega e assim prefere mudar o mundo, mas pela supressão de qualquer ponto de apoio. A inteligência, então, porque transformada em valor, tem o sabor amargo de um nomadismo onde tudo é deserto. Não guarda nenhuma história, não pretende nenhum futuro, não preza nenhum lugar.

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