Amar é aprender a ser ridículo, a fazer e dizer bobagens, a se ferir por gostar dos outros sem querer, tudo sem se ressentir dos resultados, e a razão disso Jorges Luis Borges conhecia, “la verdad es que nadie puede herirnos salvo la gente que queremos“. O amor não é um conto de fadas, é o contato imediato com o Real, com o verdadeiro, com o não fingido e o não encenado; é o melhor e o pior de estar desarmado ante os outros, de não querer e nem precisar defender-se mesmo diante de pessoas que podem te ferir e que te ferem ocasionalmente. É um enorme desafio não se ressentir das feridas.
Mas se nos ressentimos do fato de que amar significa ser sempre perdulário, e aceitar esse preço, mostramos que não acreditamos verdadeiramente na ideia de que o amor é doação ilimitada a uma completa ingratidão (como nos ensinou Drummond), mas esperamos que ele seja satisfação, completude, saciedade, ou seja, um produto vendido no mercado do Turismo, uma experiência a dois, entre a sexta e o domingo, devidamente registrada e divulgada — nunca o real do amor e suas pontas afiadas, suas arestas. É difícil aceitar o amor como coisa real, mais fácil editá-lo convenientemente e expô-lo na vitrine das redes sociais como um produto, um troféu que atesta que você pode ser um modelo para os outros (influencer), e que você realizou o sonho dos outros, e a sua vida cotidiana é o sonho e a fantasia das pessoas que te seguem. Amar não é um produto, mas alguém ainda ama assim? Alguém ainda consegue viver o amor como alguma coisa que não precisa vender pros outros?