Oração de um filósofo

O

Deus me livre de ser confundido com uma pessoa que pensa que as mulheres são menos capazes de fazer filosofia (ou qualquer outra coisa) que os homens. Deus me livre de ter que falar ou escrever todes (e coisas do tipo) para demonstrar respeito pelas mulheres ou por quem quer que seja. Eu sempre prefiro que a gente não diga certas coisas, mas as faça sentir. Respeito se faz sentir mais do que se deve dizer, o uso da linguagem é sempre atuação, encenação, e pode (eu disse “pode”) não ser autêntico, mas meramente performático.. o gosto pelas aparências não cria um mundo de respeito, mas de fingimento e hipocrisia.

As regras e as normas são menos importantes do que pensam as pessoas que querem usar a gramática como arma e instrumento numa luta política (a “esquerda”, definida conforme o peso do que se entende por esquerda no EUA — “progressistas, militantes e ativistas” —, nossa metrópole cultural e política). O importante é a prática, é o que se faz, o que se faz em cada ato, é a ética.. entende a diferença entre a mera regra (norma) e a prática? É difícil explicar, mas é só pensar na diferença entre “dizer” e “fazer sentir”.

Há pessoas que gostam e acreditam piamente nas palavras; por sua vez, outras acreditam mais nas ações. Por exemplo, qualquer pessoa pode usar palavras para dizer que gosta da gente, mas nós só acreditamos nas pessoas que podem nos “fazer sentir isso”, pois a linguagem pode ser um meio em relação a um fim (instrumento), mas um sentimento não pode ser — o sentimento é autêntico, porque não é mediado. Você pode ser enganado por uma boa performance (um ator ou um psicopata), mas não por um sentimento, um sentimento tem a força da autenticidade, do verdadeiro (querendo deixar de falar da verdade, topamos de novo com ela).

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